O artigo problematiza a desigualdade de gênero, especialmente no que se refere à divisão dos cuidados, enquanto a paternidade se apresenta como participação eventual, tal desigualdade impõe à maternidade/maternagem dedicação integral. Objetivou-se compreender como a divisão sexual do cuidado se manifesta no cotidiano das estudantes-mães do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria-RS. Mediante pesquisa de abordagem qualitativa, em que a participação de seis estudantes-mães, com vínculo acadêmico entre 2019-2025, tornou possível estabelecer a análise das narrativas compondo com o referencial teórico das pesquisadoras Silvia Federici (2017, 2019, 2021, 2022, 2023) e Vera Iaconelli (2020, 2023). As análises revelam que a maternidade permanece fortemente associada à responsabilidade exclusiva das mulheres, reforçando a naturalização do cuidado como função feminina. Em contrapartida, a paternidade é frequentemente percebida como apoio eventual, e não como corresponsabilidade. Apesar das desigualdades de gênero produzirem vulnerabilidades para as mães-estudantes e seus filhos/as no contexto da formação inicial, os relatos apontam também práticas de resistência, redes de apoio e solidariedade entre as mulheres, e com isso criam e reinventam modos de (re)existir na Universidade. A instituição, apesar de estar sensibilizada nos últimos anos, principalmente após as urgências da Pandemia de Covid-19 e com a atuação do Comitê de Políticas de Gênero, ainda precisa efetivar políticas e gestão curricular para as estudantes-mães perante os desafios da maternidade. Outrossim, tornar visível o trabalho reprodutivo das estudantes-mães no contexto da formação inicial é fundamental para repensar políticas e práticas que reconheçam o cuidado como responsabilidade coletiva.