Este artigo investiga as vivências de mulheres em posições de liderança em startups brasileiras sob a perspectiva da Psicodinâmica do Trabalho. O estudo examina os efeitos psicossociais associados ao exercício da liderança por mulheres que atuam em startups no Brasil, partindo da hipótese de que a atuação em ambientes organizacionais de baixa previsibilidade, aliados à permanência de estruturas simbólicas excludentes, impacta de forma específica a experiência subjetiva dessas profissionais. A metodologia adotada foi qualitativa, baseada na análise clínica do trabalho proposta por Dejours, com realização de entrevistas clínicas individuais com mulheres que ocupam ou ocuparam cargos de liderança em startups. Os resultados revelam que as startups, apesar de sua imagem inovadora e discursos de inclusão, reproduzem e, em alguns casos, intensificam padrões tradicionais de desigualdade de gênero através de mecanismos sutis e sofisticados. A horizontalidade proclamada não elimina automaticamente as hierarquias simbólicas baseadas em gênero, manifestando-se através da cultura do "clube do bolinha", apropriação de ideias, questionamento sistemático da competência feminina e sobrecarga emocional. As participantes relataram desenvolver estratégias defensivas e de mobilização que incluíram autorresponsabilização, busca por suporte terapêutico, desenvolvimento de estratégias de comunicação mais assertivas e formação de redes de apoio entre mulheres. O estudo conclui que a compreensão das interseções entre psicodinâmica do trabalho e questões de gênero é fundamental para o desenvolvimento de políticas e práticas organizacionais mais inclusivas e saudáveis.