Este artigo examina como gravações históricas influenciam as interpretações musicais atuais, ponderando os benefícios dessas referências e os potenciais entraves à criatividade artística. A partir de revisão bibliográfica e reflexão teórica, discute-se o papel das gravações como documentos culturais que moldam tradições interpretativas e servem de referência para músicos contemporâneos. Exemplos emblemáticos – de Maria Callas na ópera a João Gilberto na bossa nova, de Glenn Gould na música erudita a Miles Davis no jazz – ilustram como performances registradas podem estabelecer padrões interpretativos amplamente seguidos. Por outro lado, analisa-se criticamente como a fidelidade excessiva a registros consagrados pode limitar a liberdade interpretativa, levando à padronização e à inibição da inovação. Buscando um equilíbrio entre tradição e originalidade, o artigo propõe estratégias para uma escuta crítica e criativa das gravações, incentivando abordagens dialógicas que valorizem a singularidade de cada intérprete. Conclui-se que as gravações históricas, se usadas com consciência crítica, enriquecem o repertório interpretativo sem sufocar a criatividade, cabendo aos músicos a tarefa de dialogar com o passado para reinventá-lo no presente.